Anos passaram e eu percebi declínios, nem sempre o muro me protegia como eu queria, dando margem á entrada de outro ser na minha vida, e ele se chamava Fingimento. Lidar com este novo elemento não era fácil, no início; conter as lágrimas dentro da armadura de guerreiro na qual eu estava vestido o dia inteiro e apenas solta-las quando estivesse comigo mesmo em um espaço inacessível á carnes sólidas não era uma tarefa prazerosa, mas eu sempre consegui completá-la. No entanto, não por tempo prolongado.
E então eu dancei.
Descobri a dança no ato da dor, parecida mesmo com a dor da mãe, mas não quando ela dá luz ao seu filho e sim quando ela o perde. Dancei para encontrar em outra atmosfera aquilo que na Terra ainda não havia sido feito pra mim, a felicidade interior. Dancei para dizer a Deus o quanto eu precisava de um pouco mais de tempo para caminhar, a fim de descobrir o que eu era realmente, Justamente por que de tanto pulsarem em meus ouvidos o discurso de que eu era aquilo que não conhecia, deixou-me realmente na dúvida e ás vezes eu me pegava pensando:” Se tanta gente fala uma coisa só, esta coisa só pode ser verdade.” Entretanto, as carnes sólidas mentem, inventam; boa parte são maldosas e superficiais, por vezes até guardam rancores e complexos dentro de si mesmas, tornavam-se, portanto, impróprias para fazer julgamentos. E todas essas “qualificações” fizeram-me voltar a compreender-me e a descobrir-me enquanto outra carne sólida, com qualidades, defeitos, mas não com aquela identidade que elas haviam posto imerecidamente em mim.
Dancei para perguntar a meu próprio espírito o que era que tinha lá dentro: se raiva, se medo ou se nada havia. Dancei na dor da dança para esconder a verdadeira dor que sentia internamente. Dancei na melancolia da dança para espremer-me e atacar a minha própria melancolia na tentativa de forçá-la para que ficasse somente nos instantes imaginários do movimento trabalhado. Dancei na beleza da dança, a fim de tentar encontrar beleza em mim, a parte mais crítica dessa minha entrega á dança, pois ainda não encontrei respostas a isto.
Como diz certa canção: “Vou deixar que minha guitarra diga tudo o que sou; não sei dizer por mim... Custa um mundo respirar.”. E ainda outra frase da mesma canção revela-me ao dizer: “Se não posso estar contigo, já não posso estar sem ti; cada vez parece mais duro ser feliz.”.
Danço para ir ao encontro desta necessidade, sem ela não seria mais o mesmo ser.
Mas sinto-me ainda melhor quando alguém me nota, me percebe e vai ao meu encontro. Sei lá, sinto-me desejado. É como se eu imaginasse que oferecer um minuto da minha companhia a alguém seria dar a ela a força necessária, a mesma que eu tive, para confrontar as carnes sólidas de má intenção espalhadas por aí á fora! Apesar de que eu enquanto corpo que dança, vejo-me ascendendo, por tirar de mim e pôr no movimento as incógnitas mais profundas e por não me deixar abalar, mesmo com as tentativas. Porém fora dela, me resumo nesta outra canção: “Sem surpresas;
um coração que está cheio como um aterro de lixo; um emprego que te mata lentamente
Feridas que não vão cicatrizar.”.
um coração que está cheio como um aterro de lixo; um emprego que te mata lentamente
Feridas que não vão cicatrizar.”.
Eu não sou aquilo que os olhos medíocres conseguem ver.
Fábio Sabath
Nenhum comentário:
Postar um comentário