quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Um dia ela chega e você tem que recebê-la.

Eu nunca consigo ficar de pé por muito tempo, já consegui anteriormente, mas hoje não; as minhas pernas enfraqueceram na mesma proporção que meu coração e eu não vejo solução para isso ainda. É louco pensar desta forma, eu sei. Porém há um momento em que acordamos e imediatamente vem-nos a realidade crua e ardente, queimadora de nossos sonhos e pensamentos mais comuns. Quando esta chega, traz consigo uma imensidão de informações que inicialmente parece nos sufocar... ah, deixe-me falar por mim, Ego.
Eu acordei e a realidade estava do meu lado, sorrindo para mim; não sei se por felicidade ou por sarcasmo, se por benevolência ou maldade... só sei que estava lá. E quando ela chegou, a única coisa  que pude fazer foi conformar-me, pois a realidade tem o quíntuplo do meu peso e eu não posso competir com ela. Insistir em conviver nos sonhos é o mesmo que gastar o dinheiro que não tem ou tentar viver as aventuras que não pode. 
Eu estive assim por muito tempo, até agora. Por que é sempre assim, tento viver nos meus sonhos uma realidade que está fora deles e que eu jamais consegui alcançá-la. É a ilusão quem usurpa minha imaginação e eu me sinto feliz por alguns instantes quando estou de olhos fechados.
Entretanto, é ao abri-los que eu me sinto eu, com as características mais imbecis e absurdas, mas que são concretas, infelizmente.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

!!!

Eu sou um bobo mesmo!
Me impressiono com tudo e fico assim, sem ter quem perceba minha angústia interna e rasgadora do meu espírito assustado.
É uma mania terrível que eu tenho de esperar que as pessoas se impressionem comigo na mesma medida! Horror! Isso nunca acontece! Nunca aconteceu!

domingo, 15 de agosto de 2010

Rasgaduras


Você não acredita no que eu digo. Por isso não digo nada. Você não me enxerga como algo a mais, ainda. Sabe-se lá quando esse ‘ainda’ acabará. Por que a vontade que se instala como parasita em meu peito é quem me impulsiona a falar de amor, mas eu, por mim mesmo não falaria, ele nunca me trouxe sorte.




Mas no breu dessa tempestade da qual você não tem nada a ver, é assunto mal resolvido que tenho com o meu coração, eu fico pensando numa possibilidade de ver o jogo virar e eu vencer... De mim mesmo, entende? De chegar a um momento de meus dias em que o meu medo de amar acabe e que as palavras bonitas signifiquem algo sólido para mim e que eu esteja pronto para ser amado, sem traumas emergentes.


As rasgaduras em meu corpo me obrigam a ser assim.


Adoraria pegar sua mão e sair por aí sem dívida nenhuma com trauma nem personalidade, apenas você e eu, sair para vermos o tempo passar e nós nele, abraçados e trocando as energias, aquelas que eu preciso para continuar crente no amor! Imagino o vento batendo em nossos sorrisos felizes enquanto andamos pela rua... De mãos dadas. Imagino o frio nos fazendo abraçar-nos mutuamente, a transferir todo o amor, todo o prazer de estarmos juntos.


Porém, creio que você não está ligando muito para isso. Você está satisfeita com o que já tem de mim e sabe que pode ter o que quiser, quando quiser...


Eu adoraria estar com você, se fosse mesmo possível. Por que você simplesmente está aí do outro lado, que não é o meu. E eu estou aqui como todos os outros dias, pensando em como ser mais feliz.

sábado, 14 de agosto de 2010

De que me serve a paixão?




De que me serve a paixão? De alívio ou de sofrimento? De futuro ou de momento? Pus-me a pensar que amar é simples para as pessoas que são amadas! É como dirigir um caminhão, fica bem mais fácil aprender, alguém que já passou pela bicicleta, pela moto, pelo carro, pelo ônibus... É mais simples, admita.
De que me serve a paixão se ela sozinha não faz nada? Mesmo apaixonado, eu ainda tenho que fazer uma série de absurdos para que ela (a dita cuja que está sendo amada) acredite no que estou sentindo... Talvez ela nem acredite e brinque comigo como fez aquela outra... E eu não consigo mais fazer tais coisas. Travei.
Meus pés sentem-se inseguros para caminhar por este caminho estreito. Não me sinto nada protegido. Conquistar alguém não é o meu forte, eu não sei como fazer isso, nem sei se tenho algo que conquiste alguém, tenho? Já houve uns que me disseram ter percebido em mim algo assim, de longe, atraente; não acredito nesses, não acredito em quase ninguém.
De que me serve a paixão? As lamúrias continuarão, continuarei sendo mal-visto, as impressões que causarei serão as mesmas, os julgamentos de valores prevalecerão a meu respeito. O que irá essa tal de Paixão, acrescentar em minha vida? Tem alguém disposto a tentar me mostrar o valor prático de uma paixão? Eu desconheço qualquer um que possa existir.
De alguém que quase morreu de tanto amor que sentia por mim (literalmente), eu recebi ofensas, excessos de indelicadeza, doses cavalares de orgulho, intransigência, fanatismo, exclusivismo. Sentia-me um louco, bicho de sete cabeças era amar daquela forma, mas eu tentei e por mais que eu tivesse a força quase que mundial para resolver meu problema com esta dita paixão, ela não se colocava nas ações como se punha nas palavras. Dizia ter um amor que ia além da vida, mas que me fez morrer a cada dia, até o meu último... Até que cheguei a este estado!
Não vou mais mentir! Preciso de amor como quem precisa de água! Alguém para apertar-me por entre as mãos e que me ame da forma mais translúcida provável... Mas quem? Quem amará a mim? Até hoje eu não consigo entender de onde vinha tanto querer neste caso passado, não sei de onde virá tanto querer numa experiência futura! As minhas veias queimam de necessidade... De um simples abraço de amor, de um beijo doce, sem exageros, de um olhar que fale por si só. Eu preciso de amor, no entanto careço de coragem para acreditar que ele possa me levantar outra vez e me fazer acreditar que ele é bom, careço, careço, careço...

Homens também falam em rosas




As rosas se calam e choram durante a noite;
Sob as dores inacabadas do golpe reto da foice
Da Solidão e do Medo
Durante o dia sorriem a esconder a dor que sentem;
Fomentam a alegria de outras poucas rosas felizes
Para que a foice seus sonhos não encerrem.
Eu sou uma dessas rosas, caladas, choradeiras, inibidas;
Submerso em meus valores, mas sonhando pela metade;
Pois a foice levou meus olhos escuros,
Logo eles! Os únicos que tinha para vislumbrar o futuro.
Em meu tronco, só ferida;
Um líquido quente e incômodo chamado Vontade,
Desce pelo meu corpo, lavando meu peito;
Mas que depois de escorrer deixa a marca da impossibilidade.
Homens também falam em rosas;
Falam dos espinhos, dos terríveis caminhos;
Percurssos que fui obrigado a seguir;
Para não morrer nem ficar totalmente sozinho;
Eu tenho medo da morte;
Tenho medo da sorte;
Pois por sí só ela causa inveja;
E as outras rosas no meu espaço inseridas;
Na primeira chance, fazem-me feridas incicatrizantes.
                                                                                                                                            

Se você quisesse me amar...




Eu novamente nasceria da maneira que você achasse melhor;
E subiria o Everest só para me adaptar;
Criaria outro modo pra chegar até você;
Talvez o avião a jato ainda seja devagar.
Eu iria para Marte pessoalmente
E te traria o mais belo extraterrestre;
E lá mesmo eu faria pra você
Um canteiro de flores campestres.

Eu reinventaria a matemática
E aumentaria as chances de ficarmos juntos;
E me tornaria mais rápido que o vento
Para com você dar a volta ao mundo em dez segundos.
Tornaria-me um vírus bonzinho
Somente para infectá-la com meu grande amor.
Seria capaz de viver mil anos no Saara
Apenas para não perder nenhum grau centígrado do teu calor.


sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Quer mesmo?



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Não aconselho ninguém a entrar no meu mundo! Antes eu até podia fazer isso, mas hoje entendo que existem coisas fortes demais para alguém percebê-las em mim. Entretanto, por conta das vontades, desejos e insistências de alguns, vou aos poucos me apresentando realmente e acabo por sentir que se assustam comigo muito mais de decepção do que de admiração. É simples o motivo; eu sou careta demais, admito.
A pessoa que namorar comigo (se é que existe alguém no mundo com essa pretensão a meu respeito), deve estar pronta para lidar com uma pessoa extremamente romântica, que não discute com absolutamente ninguém sem usar de conceitos pautados na ciência (o que significa que para falar de amor, eu uso a psicologia, a filosofia, a antropologia e todas as “jias” possíveis, mas não é sempre assim); sou uma pessoinha que não bebe, não fuma, não gosta de festa, sou introspectivo em demasia e não gosto de ficar conversando com os amiguinhos da namorada, não me sinto bem... Eles vão falar mal de mim depois e vão dizer a ela aquelas coisas que eu já ouvi antes (deve ser esse o motivo de minha solteirice; será que existe alguém que possa mudar isso?).
Deve ela estar preparada para lidar com um sujeito pontual, genuinamente calmo, hiper-educado, observador, filosófico, sensível a determinadas situações, porém firme em tomadas de decisão nos 45 minutos do segundo tempo com prorrogação! Ainda tem mais: A coitada (nem sei por que estou usando este termo) passará maus bocados e só de pensar nisso já dá dó, pois até hoje poucos dos meus amigos conseguiram passar um dia de passeio comigo sem voltar pra casa revoltados com as coisas absurdas que falam sobre mim, assim abertamente, enquanto passamos pela rua!
O assunto é tão sério que... Sei não! Eu deixei de acreditar em um amor pra mim faz tempo!
Imagina a seguinte cena:
- Papai, Mamãe! Este é Fulano de Tal, meu namorado! – Diz a menina, alegre a ponto de pulular de satisfação.
- Minha filha, - diz o pai – desculpe, mas... Este é o seu namorado?
- Como assim papai?
- Sim, minha filha; eu não acredito que você vá namorar justo uma cara deste tipo, com tantos por aí melhores... Com uma fama melhorzinha que a dele... Você sabe do que vivem chamando ele? A cidade toda fala deste rapaz, quer dizer, nem sei se é rapaz mesmo!
- Papai, assim você ofende o Fulano de Tal! – diz a coitadinha (viu, é nesse sentido que eu falo).
- Bem, você é quem sabe, mas os comentários que ouço sobre este aí, não são bons nem no céu nem no inferno, abre-te o olho. Por mim, eu não sou a favor, mas você já pode decidir sozinha e arcar com as conseqüências depois!
Imaginou? Olha o tamanho do constrangimento que a princesa vai passar! Isso já aconteceu na minha primeira relação séria com alguém. Dá até vontade de rir, mas o caso é sério... Eu não quero mais ser motivo de constrangimento para ninguém que eu chegue a amar. Até porque os familiares não são os únicos a fazerem tal julgamento prévio de valores, os amigos também entram na história e foi assim... Exatamente assim e com mais acréscimos que a minha primeira grande história de amor obstruiu-se em apenas cinco meses!
Mesmo com tantas qualidades que porventura eu tenha, as pessoas desmoronam-me em seus comentários por eu ser da arte e por ter todos os qualitativos inicialmente narrados. O mais conflitante é: eu não sou nada do que dizem, absolutamente nada! Mas saio perdendo, pois a pior coisa é carregar um fardo que não é seu, mas que está com você todo o tempo.
Não aconselho ninguém a me conhecer profundamente! Com ressalva, caso o indivíduo se proponha a assustar-se com as lamúrias que faço! Tenho todas as qualidades que um homem sério poderia ter, mas é impressionante como a minha profissão e o meu jeito de andar conseguem influenciar as pessoas contra mim! Ou seja... Toda uma identidade construída que se mantém de pé apenas quando estou sentado, não posso andar, é automático, andei, a identidade desmorona... E eu sou o lado mais fraco da corda, saio perdendo sempre.
Quer mesmo me conhecer melhor?

Lamento meu!





Sou dono de uma tristeza desmedida que começa lá no fundo da alma e ultrapassa os limites do meu corpo e que não me deixa em paz nunca.
Ao subir e descer escadas ela me acompanha; na sala, em frente á lareira, sentada comigo ela está; quando ando, ela está do meu lado, mas sempre com um passo á frente para que eu não a esqueça quando olhar para os lados.
Pensava que a tristeza era apenas a coisa maluca contida na cabeça de alguns desestabilizados, porém pude ver algo mais profundo a partir de mim mesmo: a tristeza é sã. E essa sanidade é tamanha que, quando menos se espera, ela vem e te pega de modo inesperado, invade teu corpo, age como sanguessuga, nutrindo-se da última gota de sua noção de mundo e finalmente, o torna louco no lugar dela.
Ela torna-se freqüente, cotidiana, passa a fazer parte de seu discurso, da sua filosofia, da sua lógica de vida, mais tarde torna-se seu café da manhã, almoço e jantar... Sua água, seu ar, seu sono, sua hipertensão. Vai de modo invisível, sem receio, sem remorso e torna-se o seu olhar, sua postura, o incômodo no teu peso, o tamanho do teu passo.
Segue tornando-se tudo, até tomar o corpo por inteiro, não deixando para ele nenhuma brecha por onde ele possa ter luz, nem som, nem sonhos... Nada que o vivifique.
Segue assim até que a morte os separe.




quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O Banco e Eu... II





Anos passaram e eu percebi declínios, nem sempre o muro me protegia como eu queria, dando margem á entrada de outro ser na minha vida, e ele se chamava Fingimento.  Lidar com este novo elemento não era fácil, no início; conter as lágrimas dentro da armadura de guerreiro na qual eu estava vestido o dia inteiro e apenas solta-las quando estivesse comigo mesmo em um espaço inacessível á carnes sólidas não era uma tarefa prazerosa, mas eu sempre consegui completá-la. No entanto, não por tempo prolongado.
E então eu dancei.
            Descobri a dança no ato da dor, parecida mesmo com a dor da mãe, mas não quando ela dá luz ao seu filho e sim quando ela o perde. Dancei para encontrar em outra atmosfera aquilo que na Terra ainda não havia sido feito pra mim, a felicidade interior. Dancei para dizer a Deus o quanto eu precisava de um pouco mais de tempo para caminhar, a fim de descobrir o que eu era realmente, Justamente por que de tanto pulsarem em meus ouvidos o discurso de que eu era aquilo que não conhecia, deixou-me realmente na dúvida e ás vezes eu me pegava pensando:” Se tanta gente fala uma coisa só, esta coisa só pode ser verdade.” Entretanto, as carnes sólidas mentem, inventam; boa parte são maldosas e superficiais, por vezes até guardam rancores e complexos dentro de si mesmas, tornavam-se, portanto, impróprias para fazer julgamentos. E todas essas “qualificações” fizeram-me voltar a compreender-me e a descobrir-me enquanto outra carne sólida, com qualidades, defeitos, mas não com aquela identidade que elas haviam posto imerecidamente em mim.
            Dancei para perguntar a meu próprio espírito o que era que tinha lá dentro: se raiva, se medo ou se nada havia. Dancei na dor da dança para esconder a verdadeira dor que sentia internamente. Dancei na melancolia da dança para espremer-me e atacar a minha própria melancolia na tentativa de forçá-la para que ficasse somente nos instantes imaginários do movimento trabalhado.  Dancei na beleza da dança, a fim de tentar encontrar beleza em mim, a parte mais crítica dessa minha entrega á dança, pois ainda não encontrei respostas a isto.
Como diz certa canção: “Vou deixar que minha guitarra diga tudo o que sou; não sei dizer por mim... Custa um mundo respirar.”. E ainda outra frase da mesma canção revela-me ao dizer: “Se não posso estar contigo, já não posso estar sem ti; cada vez parece mais duro ser feliz.”.
Danço para ir ao encontro desta necessidade, sem ela não seria mais o mesmo ser.
            Mas sinto-me ainda melhor quando alguém me nota, me percebe e vai ao meu encontro. Sei lá, sinto-me desejado. É como se eu imaginasse que oferecer um minuto da minha companhia a alguém seria dar a ela a força necessária, a mesma que eu tive, para confrontar as carnes sólidas de má intenção espalhadas por aí á fora! Apesar de que eu enquanto corpo que dança, vejo-me ascendendo, por tirar de mim e pôr no movimento as incógnitas mais profundas e por não me deixar abalar, mesmo com as tentativas. Porém fora dela, me resumo nesta outra canção: “Sem surpresas;
um coração que está cheio como um aterro de lixo; um emprego que te mata lentamente
Feridas que não vão cicatrizar.”.
Eu não sou aquilo que os olhos medíocres conseguem ver.


            Fábio Sabath


O Banco e Eu... I


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Hoje eu estava sentado num banco.
Num banco estava eu sentado hoje.
Sentado num banco hoje eu estava.
Sentado hoje estava eu num banco.
Hoje sentado num banco estava eu.
Eu sentado num banco estava hoje.
Estava eu hoje num banco sentado.

Percebi que estava sozinho, exatamente como pretendia... Ou talvez não, jogos de marketing acontecem com o emocional também, creio eu.
Hoje eu pretendia sentir algo diferente dos outros dias comuns, então me sentei decididamente naquele banco e ele me fez companhia; falávamos sobre o que eu conseguia ver no horizonte, talvez fosse melhor dizer o que eu não conseguia ver, pois esta sim era a minha visão predominante naquele instante. É estranho chegar a um lugar onde ninguém conhece você, pior é quando você redescobre que neste lugar, poucos ou nenhum dos presentes se interessam em conhecer-te mais profundamente, ainda pior que o dito anteriormente, é quando se redescobre por mais uma vez que na verdade, de tanto esquivarem-se de querer conhecê-lo, nem você próprio acredita mais ter alguma coisa para oferecer á consulta; a partir de certo momento, tudo começa a ser inútil e nem você próprio se compraria, se fosse o caso.
            Pensei bastante, o banco me ajudava nessa missão, pensar é mais difícil do que se imagina, mas ele não falava nada, talvez para não atrapalhar meu pensamento ou talvez para não envolver-se na minha vidinha. Será que ele pensava como aqueles que dizem: “A vida deste sujeito não me interessa?”. Se assim fosse, eu estava outra vez sem sentido ali. O banco não me acrescentava nada, mas para mudar isso, eu precisava de uma carne sólida que sentasse do meu lado e tentasse perceber algo em mim sem que eu dissesse á que estava naquele lugar afastado, sem ânimo e na companhia de um simples banco, pensando nas coisas que talvez as pessoas estivessem pensando, por conta do desinteresse de todas elas em saber mais sobre mim. Entretanto, ninguém apareceu, o mesmo espaço sombrio continuou e eu nele.
            Sei lá, há momentos em que a gente quer ser o que tanto sonhávamos, porém somos obrigados a ser aquilo que os indivíduos pensam; daí cai o nosso castelo de cartas. Como sustentar um castelo de cartas, estando ele sob ventos fortes? O vento é destruidor quando quer... Sopra bem devagar, mas quando decide soprar forte, as transformações no espaço em que ele age são terríveis... As transformações em mim foram tamanhas, tal qual a ventania no castelo de cartas.
            Tentei então construir um muro! Aparentemente mais forte, mais resistente, mais imponente até! Nele eu me transformava naquele que era o desbravador do mundo e do conhecimento, as carnes sólidas me chegavam rapidamente e todas elas se apegavam rapidamente a mim, declaravam-me amores e admirações e arrependimentos por julgamentos precipitados; e espantava-me aquilo tudo; eu vivia numa caverna, sentado num banco, o mundo através de sombras projetadas na parede! E de repente saia e dava de cara com aquelas transformações absurdas, que somente ocorreram por conta da construção daquele meu muro, aquele que me sustentaria no novo espaço em que estava inserido por bastante tempo, anos á frente.

Nada para fazer...



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Não tenho nada para fazer;
Nada para falar;
Estou sozinho;
Aqui não se fala em acréscimos;
Fala-se apenas o necessário;
Mas não depois da meia-noite.
Depois da meia-noite vem o sono;
Vem o cansaço e o abandono;
Abandono de si e do outro;
O outro... Que nem se tem certeza de encontrá-lo vivo no dia seguinte.
Não tenho nada para fazer;
Não sei o que devo estudar;
Se é que estudar vale alguma coisa;
Se a coisa que eu busco precisa mesmo de estudo;
Se o estudo me fará alcançar esta coisa;
Será que a vida não me dirá outra trilha?
E ela, estará comigo ainda nesta nova passarela?
Não tenho nada para fazer;
Apenas ouço música antiga;
Sinto-me então mais antigo que ela;
Talvez para procurar a paz em meu subconsciente;
Caso esteja certo esse meu conceito de consciência.
Penso em você, penso com tanta intensidade;
Sabendo eu, mesmo sem reconhecer, da sua desinformação;
Insisto em querer você, por que meu corpo pede;
A gente tem essa mania de desejo;
A gente tem essa mania de sofrer pelo impossível.
Não tenho nada pra fazer;
Essa é apenas mais uma madrugada;
Não tenho amigos agora;
Não tenho pai nem mãe agora;
Não tenho a menina que declare seu amor por mim;
Nunca tive.
Minto... Tive, mas éramos tão novos e imaturos;
Não imaginava que meu futuro seria tão duro.
Não tenho nada a fazer;
Os textos me despertam sentimentos que não são os que eu necessito;
As músicas lembram-me situações que ainda anseio viver;
As pessoas com as quais convivo só aumentam a minha desesperança.
As coisas que escrevo apenas assustam aos corajosos que as lêem;
Os meus pensamentos apenas desestimulam os otimistas;
Eu, em mim mesmo, sou uma dissimulação.
Não tenho nada pra fazer;
Portanto não ando, perdi minhas pernas;
Não falo, tenho um câncer emocional mortal.
Não ajo, meus músculos encurtaram-se;
Não vivo, não sei por que, na realidade.
Apenas sei que não tenho nada pra fazer.

Cada um tem um fantasma dentro de si?




Fantasma da Solidão


Hoje eu não vi o meu fantasma da solidão; aquele que me acompanha para me dar o suporte de um peso que carrego sem perceber e ao mesmo tempo reclamo dele.
Hoje não o envolvi nas minhas declarações ameaçadoras, nem o afoguei nas minhas mágoas poéticas, apesar de que, quando eu não o faço, ele sempre faz por mim, involuntariamente.
O meu fantasma manteve-se oculto hoje e não veio participar das minhas menções degradadas sobre mim mesmo, não me deixou a mercê da negatividade e nem se estendeu em permanecer por perto. Talvez ele precisasse de um descanso, tanto quanto eu preciso. Cuidar de mim cansa... Eu que o diga!
Hoje, dia tão igual quanto todos os outros, o meu fantasma da solidão não me deu margens para enraizar-me no meu discurso de sempre: vitimado, pessimista, retrógrado, problemático. Deixou-me livre e saiu-se livre de mim por algumas horas, durante as quais não me senti eu, como o sou geralmente. Senti-me outro, não mais leve nem mais sereno, tampouco mais angelical (faz muito tempo que não tenho mais motivos para sentir-me angelical), apenas senti-me inerte (mais que o normal); hoje eu não tive os instantes de pálida reflexão sobre o meu dia, as pessoas que dele participam e as cenas prováveis ou improváveis, como costumeiro.
Hoje não me foi possível tornar-me algo diferente, como também é do meu costume, para tentar apagar os traumas do julgamento prévio sobre o que não sou.  Não pude ser como a cobra, quieta e calma enquanto não-ameaçada, nem pude ser o crocodilo, que ataca quando tem fome ou quando tem raiva.
Eu sobrevivi hoje, definitivamente, sem a ajuda do meu fantasma, ele não apareceu.
Ele é quem me faz companhia, é meu amigo nas piores horas, está comigo nas etapas mais introspectivas, nas viagens desérticas que faço; minha música, minha dança, minha poesia, tudo ele é.  O motivo que me faz sorrir de verdade, chorar de verdade, sentir saudade, frio, calor, ódio, paixão ou amor... Ele me faz sentir tantas coisas! Conversar com ele, como faço agora, é uma terapia para mim, pois sem ele já teria enlouquecido. Jamais teria avançado; fui criado para sentir-me sempre mais confortável abaixo das “asas protetoras” da mamãe. Ele, com toda graça e sutileza é que me induz a comer e beber, a dormir e a acordar.
 Esse fantasma suntuoso, cuja razão de existir está centrada unicamente na minha existência (pois sem mim, ele também não se sentiria útil), é quem me inspira para compor belos versos que se transformam em canção, que me possibilita entrar no mundo dele e tirar de lá as coisas mais profundas e proveitosas para que eu possa apresentá-las ao mundo de maneira sincretista, mesclando por diversas vezes, o que é dele com o que é meu. Não preciso deixar espaço para que o conheçam.
Mas hoje, ele não apareceu.
É só uma citação, é a primeira vez que isso acontece; estranho, justo eu, consegui viver um dia da minha vida sem o guindaste do meu ânimo, sem o elevador de minhas razões para fazer algo... Talvez seja possível mesmo que eu tenha uma vida própria, com desejos, ansiedades, utopias, sem a prisão á algo ou alguém que me guie e faça-se modelo para que eu siga. Acho que começo agora o longo procedimento de conhecer uma nova fase da minha vida: a existência do EU: esse EU que até agora não consegue sequer escolher um belo par de sapatos sozinho.
Agora, neste minuto poético, ele está aqui comigo, vendo tudo, lendo tudo, escrevendo junto comigo; será, no entanto que estará comigo daqui a algumas horas, quando eu sair do sono e do sonho e vier novamente para esta coisa amarga, dolorida, filosoficamente chata e estressante, chamada Vida Real? Estarei sozinho novamente para tentar enxergar as possibilidades de vida agradável, frutífera e proveitosa, sem patrocínios?

            Fábio Sabath

Carta ao meu Ego... Devo ler?


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 Amigo, eu te entendo. As coisas não são tão fáceis quanto se pensa. Caminhar nessa vida de pedras e espinhos não é exatamente o sonho de cada menino, mas mesmo assim, temos que continuar, mesmo nos momentos sem luz, mesmo com o medo mórbido da cruz. Por que se caminhar por esta trilha já é uma tormenta, parar no meio dela sem motivo algum é um suicídio. Continue a lutar mesmo sem subsídio. O medo não te afasta do perigo.
         Um dia chegará a chave, aquela capaz de te abrir um sorriso e eliminar seus medos e varrer as suas loucuras para debaixo do tapete. Você não conseguirá seguir sem mim, simplesmente por que eu não seguiria sem você, estaremos nos íntimos pensamentos mutuamente. Não sofrerá para sempre, meu querido amigo, ao menos é o que eu pude perceber nas histórias em quadrinhos, por que nelas o sofrimento tem continuação, uma eterna continuação... E os quadrinhos mentem.
         Será que á sua volta tem algo que te diga o que é ser feliz? A certa altura, ninguém salva ninguém, somos os nossos próprios pára-quedas. Mas o que você faria por outros, amigo? O que faria a troco de algumas gargalhadas de felicidade e olhares de satisfação?
         Seja qual for o seu caminho, não demora pra percorrê-lo. A vida é uma surpresa. Não acredite em surpresas, nem sempre são boas e você pode estar sendo transformando em uma super-presa sem dar-se conta disto. Não espere o mar encher para começar a nadar nem o vento bater mais forte para que você possa alçar vôo. Não demora na sua arrumação, amigo... Quando você menos imaginar, poderá estar sem rumo novamente, sem lei, sem vida e talvez nem mesmo a solidão olhará pra traz para ampara-lo em seu caminho de volta pra casa.
        

Afogado



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É o meu coração quem sofre e eu pago o castigo por ele. São os meus olhos que sofrem ao admirar-te por entre as outras criaturas belas sem poder inserir-se no seu espaço. São as minhas carnes que se irritam fácil, por que perderam o costume do carinho, desconhece o que é um abraço.Sou eu quem há anos estou sozinho neste gélido oceano; espero que alguém sinta minha falta e vá a minha procura... E que chegue a tempo de me salvar. O rosto que você vê não é o meu. A minha verdadeira face é tímida demais para se mostrar em público, ela se mostraria apenas para você caso fosse possível. O som que você percebe sair de mim quando canto também não me pertence, nem sei para que ele realmente me serve se tanto grito e tantos pedidos não fazem alguém me ouvir e vir ao meu encontro.
Eu continuo me afogando e não é a profundeza que me assusta, mas o percurso até ela... É frio lá embaixo! É imensamente frio! Porque somente eu consigo dizer isso? Ninguém mais tem esse meu discurso? Ninguém mais sofre como eu sofro? Ou calam-se como eu me calo? É o meu peito quem precisa de afago; eu sou apenas coadjuvante de mim mesmo! Nem queria que fosse desse jeito, mas não tem outro jeito se do jeito que eu queria não tem jeito vai desse jeito mesmo.
Eu continuo me afogando.
Olho para você e te vejo normal como qualquer outra mulher por quem eu poderia me apaixonar! Mas eu seria como qualquer outro homem para você? São os meus ouvidos que zumbem pelo silêncio do apego sem solução. Não há uma matriz em quem eu possa me apoiar, eu ainda não encontrei no fundo do mar alguém que tenha se afogado de amor! Achei sim, pessoas como eu, que se afogaram por falta de amor!
E que até hoje continuam se afogando junto comigo!

Ação para não-reação




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Para sair de onde está ás vezes, é preciso caminhar, mas se não quiser chegar aonde não pretende ir, é melhor que fique.
Para tentar sonhar, é, ás vezes necessário que se durma, mas para não ter pesadelos, é melhor que tome bastante café para permanecer acordado.
Em alguns momentos, se quiser avançar em qualquer coisa, negativa ou positiva que seja, terá que transgredir, no entanto, se a tua transgressão for, por seu único e pálido objetivo irresponsável, será melhor que regrida.
Para pular é preciso de coragem, mas se para o pulo, é necessário antes  que se caia em qualquer coisa que se chame droga, é melhor que seja medroso. Para escolher é preciso sacrificar, porém se tiver que sacrificar o teu irmão ou tua mãe ou teu amigo ou teu inimigo ou teu desconhecido, é melhor que permaneça calado.  Para dirigir, é preciso domínio do volante, mas se nele fores apressado e te conquistar nele apenas a alta velocidade, é pertinente que voltes a andar á pé.
Para comer é necessário estar faminto, entretanto, se as coisas ruinosas são as que te dão fome, morra com ela, não mates teu apetite.
Para caminhar é preciso ter chão, solo firme, no entanto, se teu caminhar for somente aéreo, utópico, imaginário, contemplativo, prefira por ficar sentado a maior parte de teu tempo, até que aprendas a andar.