sábado, 15 de janeiro de 2011

Você


Você que acabou com meus dias de glória;
Você que ressuscitou o meu medo do mundo.
Você que me feriu sem nenhuma piedade.
Você que já perdeu a noção do perigo.

Você que fez de mim o seu brinquedo maior
Você que não controla seu amor selvagem
Você que a todo custo me quer, mas machuca.
Você que não vê em seu espelho minha própria imagem.

Você que inventa uma postura para negar sua redenção;
Você que criou o positivismo para esconder a verdade;
Você que acreditou nas pessoas de bom coração;
Você que hoje come areia e sal, aqui, junto comigo.

Você que expressa suas lamentações em público;
Você que dança para dizer que é artista;
Você que canta para espantar os males que nunca se vão;
Você que pensa em mim agora.

Você que observa a tudo isso e ri;
Você que somente de ouvir tudo isso chora;
Você que não é amado, mas ama;
Você que não expulsa ninguém, mas é obrigado a ir embora.

Você que acha que encanta;
Você que imagina estar vivendo;
Você que pede ajuda para cair e rejeita quem te levanta;
Você que mente ao dizer-se feliz, pois está morrendo.

Você que não está nem aí para rimas perfeitas, dane-se a perfeição;
Você que não está nem aqui para me entender;
Você que não me ouve quando falo, sua cabeça viaja em outra estação
Você que não me enxerga quando preciso te ver.

Você que se diz bom;
Você que não tem medo do medo;
Você que não me faz companhia;
Você que insiste em me esconder do meu próprio segredo.

Você que acha que eu não te percebo;
Você que inventa um amor de platina;
Você que se acha vencedor o tempo inteiro;
Você que chegou e tirou o pouco de paz na vida que eu tinha.


Você que acredita na fidelidade;
Você que não consegue declarar sequer imposto de renda;
Você que estuda um modo de me tornar mais dominável;
Você que faz do sentimento que tenho por ti, um aterro de lixo, uma pálida oferenda.

Você que tem hora pra tudo;
Você que não nota sua mãe;
Você que fala alto numa conversa com mudos;
Você que demora a sair da mesa, á desdenhar o vendedor de pães.

Você que rejeita meu desabafo;
Você que vai á igreja confessar-se ao padre;
Você que diz imaginar o tamanho do sofrimento que passo;
Você que tem a mesma máscara que eu e finge que não usa ou realmente não sabe.

Você que afirma ter personalidade própria ao ver os absurdos exibidos na tevê;
Você que se encaixa perfeitamente em todos esses e tantos outros e inibidos VOCÊS.




Fábio Sabath





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