sexta-feira, 25 de março de 2011

Satisfações á Dança

Quando paro e penso: “Estou precisando pensar nisso”, é por que para mim a coisa já começa a perder a força. Claro que esta não é uma regra, portanto, por gentileza: “NÃO LEVAR ESTE TEXTO AO PÉ DA LETRA.”
Tratando-se de arte, sei que morrerei explodindo de sensibilidade e de um fazer artístico que me assume por inteiro. Também sei que os sentimentos estarão em mim presentes de forma pura até este meu último dia e que ninguém jamais os poderá sentir da forma verdadeira como eu os sinto e, portanto, jamais o compreenderão em total contextualização comigo. Arte não se aprende, se sente, se prolifera dentro de cada ser, contamina-o e complementa-o. E antes de qualquer conceituação óbvia sobre isto, refiro-me á arte apenas no campo catártico.
Já se tratando de dança, tenho minhas alegrias, minhas vitórias, mas também tenho, como todo dançarino tardio, minhas desesperanças e tristezas profundas, minhas clausuras e minhas lágrimas. As minhas lamentações, infelizmente, não superam minhas conquistas, visto que tais lamúrias são-me despertadas a cada momento em que a Grande Dança em meu interior acorda, mas o meu corpo não corresponde ao seu alerta.
Os anos da minha vida foram dedicados, não sei a favor de quem, á rotinas religiosas que admito terem sido a base para minha educação e para um caráter conservado. Entretanto, como ganhar é perder, eu tive o meu ônus e este foi o apartamento das artes durante anos de minha vida e que me detiveram de realizar um grande desejo de meu espírito. Quando dei-me conta de que havia perdido muito tempo num lugar onde, de fato, eu jamais fui bem aceito e até hoje não sou, o tempo já havia passado o suficiente para que eu desse por perdida todas as chances de me tornar quem eu realmente queria ser, bailarino.
A primeira chance que tive de perseguir meu sonho, o fiz sem a mínima piedade ou pudor de quem poderia estar falando e por muito tempo fui perseguido severamente por aqueles que tentavam a todo custo difamar o meu caráter. Mas a dança jamais me descaracterizou enquanto ser humano, eu jamais me misturei com os estereótipos nela presentes, pois não era isso que me interessava, a dança com a qual eu sempre sonhei se fazia diferente em meu corpo, eu a idealizava mais pura e mais pessoal.
Quando cheguei á Universidade, portas outras se abriram para mim e foi a partir daí que eu percebi a dimensão de tudo que eu tinha perdido, pude conhecer a verdadeira dança e sua verdadeira função e estas questões estavam sendo todas trabalhadas em meu corpo na prática. Era meado de 2010 quando conheci a Dança Moderna em uma autêntica sala de dança, gerida pela voz de uma potente e altiva mestra. O meu primeiro grande momento. Eu estava prestes a completar 21 anos (tal qual a ilustre Martha Graham). Na primeira aula senti a sensação de já ter sido dali em algum instante da minha existência, senti-me tão bem (mesmo com olhares rústicos em minha direção)!
Mas infelizmente, eu havia chegado tarde aquele lugar. A Grande Dança está em mim, eu a sinto, eu a vejo, posso falar com ela, posso vê-la até, no entanto, meu corpo não responde mais a ela, não a obedece, não se deixa ser moldado por ela.  Hoje, as circunstâncias todas, separadamente, dão-me caminhos correlatos, mas ao mesmo tempo distintos e no geral, as mesmas certificam-me de que não me é mais possível perseguir o sonho que em silêncio carreguei desde a infância.
Em plena primeira aula, pensei: “Se eu tivesse conhecido este espaço há dez anos, ao menos poderia ter tido uma chance e hoje eu seria outro!"
Lamentavelmente, não tive essa chance! Cheguei tarde para realizar meu sonho. Agora tento me contentar com o prazer de buscar alguma coisa que seja parecida a vontade de ser um dançarino contemporâneo com formação em clássico, mas poucas coisas se aproximam disso. Talvez esteja cedo para conclusões, porém já tenho provas suficientes para acreditar que poucas alternativas me restam.
Resta-me a vida acadêmica na própria Dança ou talvez na Literatura e resta-me também a Música.  Apenas a Dança me tornaria tão completo e realizado como pessoa. Entretanto, o tempo vai passar e até lá novos acontecimentos bordarão minha história para mais ou para menos. Estes bordados vão dizer se existe para mim ainda algo que me console.