sábado, 2 de outubro de 2010

Antes de retornar ao zero!

Apesar de tudo, vivo. Apesar de tudo, sóbrio, enfim. A dor que escorre em meu peito e que é teatral e fenomenalmente disfarçada quando estou em público, não mora aqui de dias recentes, é uma dor antiga, quase parte integrante de mim.Quando casualmente lembro-me que posso deixá-la de lado, ela vem de modo nada sutil, para me recordar da existência forte dela em minha trilha.
Evito a teimosia, sei que não posso competir com ela, não posso enfrentar a verdade; entendo quem eu sou, o que causo nas pessoas e em que pessoas eu causo algo.
Investi numa nova paixão que não deu certo novamente, sequer se enraizou, na verdade. Ocorreu tudo conforme eu já sabia, tudo mesmo; desta vez mantive-me tranquilo, sabia onde estava pondo a minha cabeça e certamente não se tratava de uma guilhotina, não desta vez.
Tratava-se, em suma, da melhor sensação que já tive em minha existência; eu amei, apenas amei. Depois de tanto tempo entregue ás traças emocionais que sem pena me corroíam o interior, eu pude amar intensamente de novo. Pude, entre palavras e pequenos gestos, entender o que agrada e o que sufoca, o que faz ganhar e o que faz perder, o que faz começar e o que faz sucumbir instantaneamente. Pude descobrir um pouco neste universo dela, que me fascinou e continua fascinando-me até agora. Pude amar sem dicotomias, apenas com plenitude. Não precisei pedir nada em troca e mesmo assim, ganhei coisas que sequer imaginei que seria possível. Adorei sentir a sensação de estar sendo renovado de dentro para fora ao pensar nela e de estar sendo renovado de fora para dentro ao vê-la, ali, pertinho de mim, mesmo que por alguns segundos. Por si só, a presença dela já me causava uma cura enorme. Na prática, tudo foi muito rápido, desde a descoberta sobre o que eu sentia á conclusão que ela tirou sobre o assunto, foram menos de trinta dias. Porém, a "sensação térmica" era de uma história longa e afetuosa vivida com ela, tal qual em filmes românticos.
Estar mais sorridente, mais solícito, mais disposto fisica e emocionalmente, voltar a dormir e acordar bem, cuidar de mim, voltar á minha imagem no espelho com mais apreço e até ganhar alguns quilinhos (segundo amigos), não foram transformações nascidas no acaso. Foi este sentimento que, sem receio em dizer, foi o mais puro da minha vida inteira, que me fez toda esta reformulação. Um verdadeiro processo de fotossíntese, onde eu joguei tudo aquilo que me impedia de respirar e voltei a ser livre, de ar renovado. Os sonhos geralmente acabam e comigo não foi diferente, acabou quando eu estava prestes a revelar-me de modo mais aberto. A mim faltam uma centena de coisas, inclusive ela que já foi embora. A ela, porém, falta alguém com um sentimento tão grandioso e limpo quanto o meu; a ela falta, talvez, algo que a corresponda á altura de sua singularidade, alguém que a olhe não somente como alguém a quem se pode amar, mas como alguém que merece acima disso, um amor inconvencional; a ela falta a atenção que ela merece, a intensidade que ela precisa, a ela fala um coração um coração sem máscaras, um corpo que não transmita apenas calor humano.
Eu fui feliz. Eu a senti dentro de mim como já tivéssemos uma aliança, como se os corpos já se conhecessem de um outro momento, talvez perdido no espaço. Eu fui capaz de sentir a presença dela do meu lado quando, nesta residência mofada de solidão, eu me via sem saída; fui capaz de ouvir sua voz  me dizendo belezas através das canções que propositalmente escolhi para estar com ela por mais tempo. A ouvia desejar-me "boa noite" e sentia a leveza do teu abraço me acordando pela manhã, todas as manhãs, até esta última, e certamente...as próximas, por dias incontáveis a dentro.
Não estou aqui desenhando palavras para que soem poeticamente, escrevo a realidade, a minha ao menos. Pode tratar-se de momentos de alucinação, digno de piedade, afinal, é desta forma que sou visto por alguns. Tenho porte suficiente para garantir, porém, que , foram as alucinações mais reais e emocionantes da minha história e a transfigurou por completo. Quero permancer com elas, mesmo que nos dias mais difíceis (aqueles em que caio na real e percebo que estou de fato sozinho e que de fato ela não me quis) eu chore, isole-me ou sinta-me inútil e fútil novamente.
A ela, por quem vejo-me fascinado inteiramente, desejo-lhe as mais belas e perfeitas experiências: o amor que eu nunca tive, a companhia que eu nunca tive, o toque intenso que eu nunca tive e o beijo... aquele completo e perfeito beijo de amor que eu ninca tive.
Enquanto isso, vou indo. Não sei para onde, não tenho bússola, apenas vou com minhas poucas esperanças. Será um prazer encontrá-la por lá, caso ocorra de a vida colocá-la em meu caminho de novo.


Com grande apreço e carinho. Fábio Sabath